quinta-feira, 9 de abril de 2009

TEXTO DE SOBRE SOFISMAS


O CORAÇÃO TEM RAZÕES QUE A RAZÃO DESCONHECE

As personagens e suas características:
Pedro: adolescente astuto, intelectual, perspicaz. Nele, a razão predomina sobre a emoção. Possuía fortes “razões” para namorar Vera, uma vez que a emoção, por si só não levaria a nada.
João: jovem alegre, agradável, mas de cabeça vazia; andava sempre junto de Vera, dando a entender possível namoro.
Vera: uma gatinha de 16 anos sempre na moda, e alegre.


Na hora do recreio, no pátio do colégio Pedro aproxima-se de João e pergunta:
── Por que você está triste João? Está doente?
Não, cara, é que eu não tenho uma moto. Já pensou quantas garotas eu não conquistaria com uma 250 cilindradas?
── Nenhuma amigo, nenhuma do porte estético de Vera. Se você tivesse uma moto, só conquistaria “patricinhas” ou “ peruas” , pois as pessoas atraem pelo que são e não pelo que têm – respondeu Pedro.
── Eu faria qualquer coisa para conseguir uma moto. Qualquer coisa!
Pedro sabia que João e Vera eram muito chegados e, por isso, perguntou:
── João você namora a Vera?
── Acho que ela é legal, mas não sei se isso poderia ser considerado um namoro. Por quê?
Passado o mês das férias, julho, ambos retornaram ao colégio e continuaram a conversa:
── Já conseguiu a moto, João?
── Não, Pedro, não tenho dinheiro para comprá-la.
── Pois eu tenho uma moto. Meu irmão mudou-se para os Estados Unidos e deixou-a para mim. Como eu não gosto de moto...
── Mas que legal, cara! Quando eu posso buscá-la?
── Hoje mesmo, se quiser. Mas, para ficar com ela terá que me dar sua coleção de livros e revistas.
── Fechado, cara. Eu não leio mesmo...
── Mas há uma condição: não me impeça de tentar conquistar a Vera.
── Fechadíssimo, irmão!
Pedro, ajudado por João, marca um encontro com Vera na quadra de peteca do colégio. Fica decepcionado com a ignorância de Vera e decide ensinar-lhe lógica.
No encontro seguinte, Vera pergunta a Pedro:
── Sobre o que conversaremos?
── Lógica. Lógica é a ciência do pensamento. Para pensar corretamente, devemos antes considerar alguns erros comuns de raciocínio chamados sofismas ou falácias. Primeiro vamos examinar o sofisma chamado generalização não-qualificada. Por exemplo: “ Leite é bom para a saúde. Por isso todos devem tomar leite.”
── Eu concordo – disse ela séria-. Acho que leite é ótimo para todo mundo.
── Vera, esse argumento é um sofisma. Quer ver? Se você tivesse alergia a leite, ele seria um veneno para você. Por isso, o correto seria dizer: “Leite, geralmente, é bom para a saúde”. Entendeu?
── Não. Mas continue falando.
── O próximo sofisma é chamado generalização apressada. Preste atenção: “Você não sabe falar grego. Eu não
sei falar grego. João não sabe falar grego. Então devo concluir que ninguém, no colégio, sabe falar grego”.
── É mesmo? – perguntou Vera, surpresa – Ninguém?
── Esse é outro sofisma. A generalização foi feita de maneira muito apressada. A conclusão se baseou em exemplos insuficientes.
── Ei, você conhece outros sofismas? É mais engraçado do que dançar!
── Bem, então escute o sofisma chamado ignorância de causa: “Alexandre viu um gato preto antes de escorregar. Logo, ele escorregou porque viu um gato preto”.
── Eu conheço um caso assim – disse ela – Bernadete viu um gato preto e logo depois o namorado dela teve um acidente de ...
── Mas Vera, esse também é um sofisma. Gatos não dão azar. Alexandre não escorregou porque viu um gato preto. Se você culpar o gato, será acusada de ignorância de causa.
── Nunca mais farei isso, prometo. Você ficou zangado?
── Não, não fiquei.
── Então fale mais sobre os sofismas.
── Certo. Vamos tentar as premissas contraditórias.
── Sim, vamos.
── “Se Deus é capaz de fazer qualquer coisa, pode criar uma pedra tão pesada que ele próprio não consiga carregar?”
── Claro! – ela respondeu prontamente.
── Mas se ele pode fazer qualquer coisa, também pode levantar a pedra ...
── É mesmo! Bem, então acho que Ele não pode fazer a pedra.
── Mas Ele pode fazer tudo!
Ela balançou a cabeça:
── Eu estou toda confusa!
── Claro que está. Sabe, quando uma das premissas de um argumento contradiz a outra, não pode haver argumento.
Pedro consultou o relógio e disse que era melhor parar por ali. Recomeçariam no dia seguinte.
──Hoje, nosso primeiro sofisma chama-se por misericórdia. Ouça: “ Um homem se candidatou a um emprego. Quando o patrão perguntou sobre as suas qualificações, ele respondeu que tinha esposa e seis filhos, que a mulher era aleijada, as crianças não tinham o que comer, nenhuma roupa para vestir, nenhuma cama, nenhum cobertor e o inverno estava chegando.”
Uma lágrima rolou pelo rosto de Vera.
── Oh, isso é horrível!
── Sim, é horrível – concordou Pedro -, mas não é argumento. O homem apelou para a misericórdia e a piedade do patrão. Usou o sofisma por misericórdia. Entendeu?
── Você tem um lenço? – choramingou ela.
── Agora vamos discutir falsa analogia. Por exemplo: “Deveria ser permitido aos estudantes consultar livros durante as provas. Afinal de contas, cirurgiões tem raios X para guiá-los durante as operações; carpinteiros usam plantas quando vão construir casas. Então por que os estudantes não podem consultar livros?”
── Puxa, essa é a idéia mais genial que ouvi nos últimos anos!
── Vera, o argumento está errado. Médicos e carpinteiros não estão fazendo provas para saber quanto aprenderam, mas os estudantes estão. As situações são completamente diferentes, e por isso o argumento não tem valor.
── Eu ainda acho que é uma boa idéia.
── Quer conhecer um sofisma chamado hipótese contrária ao fato?
── Isso soa delicioso.
── Escute: “se Madame Curie não tivesse deixado uma chapa fotográfica numa gaveta com um pedaço de uramita, o mundo hoje não conheceria nada sobre o rádio.”
── Claro! Você viu o que a televisão disse sobre isso? Foi incrível!
── Se você esquecesse a televisão por um momento, eu mostraria que essa afirmação é um sofisma. Talvez Madame Curie não tivesse feito sua descoberta. Talvez muita coisa não tivesse acontecido. O certo, porém, é que não se pode partir de uma hipótese que não é verdadeira e daí querer que ela sustente conclusões.
Pedro, já sem esperanças de que Vera pudesse pensar logicamente, resolveu dar-lhe a última chance:
── O próximo sofisma chama-se envenenando o poço – disse com ar de frustrado.
── Que engraçadinho.
── Dois homens estão prestes a iniciar um debate. O primeiro levanta-se e diz: “Meu adversário é um grande mentiroso. Não se pode acreditar no que ele diz...” Agora pense, pelo amor de Deus. Pense firmemente. O que está errado?
── Não é justo. Quem vai acreditar no segundo homem se o primeiro o chama de mentiroso antes que ele comece a falar?
── Certo! – gritou Pedro, vibrando de alegria – 100% certo! Não é justo. O primeiro homem “envenenou o poço” antes que alguém pudesse beber a água. Vera, estou orgulhoso de você.
── Oh, obrigada.
── Agora vejamos o petição de princípio. Por exemplo: “o cigarro prejudica a saúde porque faz mal ao organismo.”
── É claro que a afirmativa é infantil. É como se dissesse: “prejudica porque prejudica.” Não explica nada.
── Vera, você é um gênio. Esse sofisma toma como verdade demonstrada justamente aquilo que está em discussão. Veja, minha querida, as coisas não são tão difíceis. Tudo o que você precisa fazer é se concentrar, pensar, analisar, examinar, avaliar. Bem, vamos rever tudo o que aprendemos.
── Está bem.
Cinco dias depois, Vera sabia tudo sobre lógica. Pedro estava orgulhoso, pois ele, só ele ensinara-a a pensar corretamente. Agora sim, ela era digna de seu amor.
Assim, ele decidiu revelar seus sentimentos.
── Vera, hoje não vamos mais conversar sobre sofismas.
── Oh, que pena.
── Minha querida, nós já passamos cinco dias juntos. Está claro que estamos bem entrosados.
── “Generalização apressada” ela disse.
── Oh, desculpe.
── Generalização apressada – repetiu ela. – Como você pode dizer que estamos bem entrosados baseado em apenas cinco encontros?
── Minha querida – falou Pedro, acariciando-lhe a mão – cinco encontros são suficientes. Afinal de contas, você não precisa comer o bolo para saber se ele é bom.
── “falsa analogia” – disparou ela. – Não sou bolo, sou uma moça.
Aí, Pedro resolveu mudar de tática.
── Vera, eu te amo. Você é o mundo para mim. Por favor, meu amor, diga que vai me namorar firme. Porque, do contrário, minha vida não terá sentido. Eu definharei. Vou me recusar a comer.
── “Por misericórdia” – ela acusou.
── Bem, Vera – disse Pedro, forçando um sorriso- você aprendeu mesmo os sofismas.
── É, aprendi.
── E quem os ensinou?
── Você.
── Está certo. Então você me deve alguma coisa, não deve? Se eu não a procurasse, você nunca teria aprendido nada sobre sofismas.
── “Hipótese contrária ao fato”.
── Vera, você não deve tomar tudo ao pé da letra! Sabe que as coisas que aprendeu na escola não têm nada a ver com a vida.
── “Generalização não-qualificada”.
Pedro perdeu a paciência.
── Escute, você vai ou não vai ser minha namorada?
── Não vou.
── Por que não?
── Porque esta manhã prometi a João que seria a namorada dele.
── Aquele rato! – gritou Pedro, chutando as flores do jardim. – Você não pode namorar esse cara, Vera. É um mentiroso. Um chato. Um rato!
── “Envenenando o poço” – disse Vera. – E pare de gritar. Acho que gritar também é um sofisma.
Com um tremendo esforço, Pedro baixou a voz, controlou-se e disse:
── Está bem. Vamos analisar esse caso logicamente. Como você poderia escolher o João? Olhe para mim: um aluno brilhante, um tremendo intelectual, bonito, um cara com o futuro garantido. Olhe para o João: um cara-de-pau, vazio, um vagabundo. Pode me dar um razão lógica para ficar com ele?
── Claro que posso. Ele tem uma moto – respondeu Vera, correndo para montar na garupa da motocicleta de João.
Pedro com profunda tristeza, gritou com raiva para que Vera pudesse ouvir:
── O amor é um sofisma porque amar é sofismar!
── “Petição de princípio” – berrou Vera, agarrada à cintura de João, na moto que arrancava velozmente.

4 comentários:

  1. muito bom me ajudou muito já que sofismo é uma das características barrocas na corrente conceptista ou seja o jogo de ideias do prosador barroco

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  2. Amanha teho uma prova e estou estudando com esse texto,brigadaum ai cara!

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  3. Meu professor tinha me dado uma folha com essa história, e peguei recuperação da matéria... 2 dias antes fui estudar com a tal folha.. e eu a tinha perdido, procurei por tudo e até pela internet mas tinha cada explicação mixuruca... depois de 3 horas procurando eu resolvi colocar vários exemplos e pimba... axei esse blog.... muito obrigada cara vc me ajudou muito pois preciso de 24 pontos pra passa de ano e to na 6ª série .... vlw mto obrigada xau bjos.... Thamiris de passo fundo Brasil RS !!!

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  4. Você reescreveu o texto "O amor é uma falacia - Max Schulman" ficou bom. Eu estava procurando exemplos de falacias e encontrei alguns neste post.

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