O
FRANKSTEIN QUE HABITA EM MIM
O
psicanalista Carl Jung afirmava que “nós nascemos originais e morremos cópia”.
Com isso ele nos chamava a atenção para o fato de que ao sermos colocados a
viver em sociedade, vamos adotando seus códigos de conduta e comportamento,
aprendendo, através do processo de educação ao qual somos expostos, a como
moldar nossos instintos, afim de tornar possível a convivência com o outro.
Durante esse processo de moldagem ao qual nos submetemos, fatalmente vamos
deixando fragmentos do nosso eu original, o que Jung chamava de self, trocando-os por outros fragmentos
que passam a constituir uma nova roupagem de nós. Nos tornamos uma outra
pessoa, a qual, na maioria das vezes não é reconhecida nem mesmo por nós.
Em
uma aula do meu curso de psicanálise de hoje (04/03/2017), meu professor
Alexandre nos chamou a atenção para esse fenômeno, alertando-nos para um
processo de franksteinização que mimosamente nos permitimos, sob o argumento de
que precisamos nos adequar às demandas da sociedade afim de conseguirmos levar
uma vida minimamente salutar. Em suas pertinentes observações o nobre professor
queria nos levar à reflexão sobre o que resta do homem original que hoje habita
aquilo que cada um de nós pode chamar de “eu”. Tal reflexão, se aprofundada,
pode nos levar à conclusão de que está em curso na sociedade contemporânea, um
processo patológico de negação do verdadeiro eu, o que é próprio da sociedade
líquida que caracteriza o mundo em que vivemos. A exemplo do monstro
Frankstein, que no decorrer de sua história se revolta quando é abandonado pelo
seu criador, o homem da atualidade parece carregar uma certa revolta dentro de
si por não se reconhecer como o criador e senhor da sua própria história, por
conta da alienação a que ele voluntariamente se submete. Embora exista todo um
discurso que o aponta como o responsável por construir seu ideal de realização
e correr atrás daquilo que possa torná-lo realidade, o fato é que o homem de
hoje talvez sequer saiba querer, desejar no mais profundo da sua alma. Somos
seres que nos reconhecemos incompletos, e que, na tentativa de encontrar nossa
completude, nos contentamos em usar fragmentos de outros que normalmente
admiramos e com os quais buscamos algum ponto em comum. Corremos atrás de
sonhos que não construímos, para chegar não se sabe aonde, sem considerar
sobretudo os custos que normalmente amargamos com tais buscas, com sério risco
de chegar ao final da nossa jornada existencial totalmente desfigurados.
A
conclusão que essa reflexão pode nos possibilitar é que se torna cada vez mais
urgente buscarmos dentro de nós as respostas para questões relativas aos nossos
ideais, procurando descobrir o que de fato nos torna felizes e realizados, afim
de que possamos canalizar nossa energia em direção à plena realização de
objetivos que sejam construídos por nós, possibilitando-nos assim a
oportunidade de atuarmos de forma mais autônoma na construção do ser humano que
desejamos de fato nos tornar. Somos os principais responsáveis por construir o
ser humano que projetamos em nós. Esta é uma constatação que não podemos
ignorar, sob pena de desperdiçar nossa existência com uma vida vazia de
significados e de realizações que a
justifique.
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